sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Poema V - Ludíbrio Das Horas

Aqui creio que estava me arrastando por algo que deveria ser uma vida...
Nada mais fazia sentido para mim...
Viver ou não era indiferente...
Pensamentos suicidas permeavam minha mente... tristeza e mais tristeza!

As horas são frações de segundo,
Incontáveis fragmentos a pulular
De hora em hora,
Independem de agora, amanhã ou outrora,
Enlouquecem as ampulhetas
E os fusos do mundo.

As horas detêm-se na janela da sacada,
Apenas tornam mais frio o vento,
Prolongam uma estadia na pousada
Do tormento, riem-se de ti
À medida que choras
.

As horas deixam no chão as malas,
Perfazem agora duas escalas,
Cinco horas pela estrada principal.
Fazem dançar o Sol nas alas,
Pintam de cobre as calhas,
Zombam de ti no relógio pedestal.

As horas fazem vidro do pó
E pó dos corpos decompostos,
Amarelam do álbum as fotos,
No beiral cobrem de folhas
O casarão.

As horas escolhem os vôos certos,
Deixam os vãos de janela abertos,
Para que os raios matinais e o ocaso
Revezem-se sem saudação.

Sufocam uma lágrima no chá das cinco,
Trazem-na no final da madrugada.
Levam a razão do labirinto à cilada,
Impõem, austeras, à noite, seu recinto
.      (opressão maligna)

As horas são atrozes e nos desencontram
Os falares.
Cedem memórias aos lugares e nos
Velares nos cumprimentam.
Dos tolos que sua ordem afrontam
Dão cabo e os desorientam.

As horas desvairadas
Consomem a tinta, o corpo,
A tocha, a rocha,
O óleo, a flor,
O vigor, o equilíbrio.
Minha verdade se esvai,     (desespero)
Porque o relógio a distrai,
E das horas passadas
Passo a entender
O ludíbrio.

Lúcia R. Pastorello e Silva - outubro/2009





quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Poema IV - Bosque Molhado

Aqui estava a buscar algum sentido para meus dias na beleza do mundo natural, mas enlouquecendo em minha depressão...
Um coração angustiado e empedernido era a minha marca.
Foi um período muito triste de minha vida...

Do caderno mais uma folha arrancada,
Atirada ao cesto de vime.
No piano, breve nota gorada,
Que intendeu a soar sublime.

Pela janela, solo forrado.
Laranja-terra e os galhos.
Folhas de maple e carvalhos
Frente ao atalho
Recôndito.

E as brumas.

Ai de mim, nesse quarto
E pela fresta,
Por onde me tocam
Covardes ventanias,            (opressão demoníaca)
Silêncio oculto da floresta,
Por que tardas em
Demasia?

Demoram-se as folhas a cobrir
O chão.
Relevam a angústia do meu coração
Enevoado,
Empedernido, seixo incrustado       (sem esperança)
Em rochedo incorrompido.
Como o abalo das árvores que
Não se iniciou.
E a luz solar que não irrompeu.
Nem a aurora,
Não irradia como outrora,
Quando os verões mediavam              (tristeza)
As estações.

Rindo da velha vassoura
De palha, e do balanço enferrujado,     (loucura)
Bailando ao vento, o assento
Molhado,
D'orvalho a respingar
Do arbusto folhento.

Pingos e lágrimas
Clorofiladas; encerram segredos,
Umedecem o tempo.

Frente ao balanço, no banco de pinus,
Gotas e cores
Esmiuçadas.
Refletidas do laranja, vermelho e
Castanho.
Ah, floresta caducante.
Abriga ela, com o abraço
Frondoso, também os galhos
Do cervo saltitante.

Alaranjado chão de decadência
Outonal.
Esplendor de consciência a zombar         (sentimentos confusos)
Do amor.
Estalam passos ressequidos,
Errantes,
Enquanto rumo ao carvalho principal.

Sem poesia, a partitura pertinente.
Toca o violino suavemente.
Range o balanço
Sem criança,
No abandono.

Velha apatia, amiga serviente.
Olhar que silencia e consente.        (vigilância maligna)
O chá das cinco
E, na janela
Outro outono.

Lúcia R. Pastorello e Silva - setembro/2009





domingo, 20 de setembro de 2009

Poema III - Ânsia

Aqui eu estava confusa a respeito da vida, e também acerca da ideia de Deus...
Eu queria falar de Deus nesse poema, e encontrá-lo, mesmo sem conhecê-lo!
Talvez o que eu estivesse querendo alcançar com estas palavras fosse a paz que excede todo entendimento (Filipenses 4:7), que só pode vir do Senhor, e o batismo do Espírito Santo...
Mas como eu saberia na época?
O Evangelho nunca havia sido pregado para mim...

Eu quero o belo, eu quero o santo
Quero um lugar ao sol
Onde possa me sentir mortal
E cantar junto a meus irmãos.

Quero celebrar esse mistério,
Correr os campos, ser corcel selvagem,
Sobrevoá-los como a águia esbelta,
Deles viver como a gente da terra,
Plantar o fruto e colher a vida
Nos cemitérios das gerações.

Quero o suor do trabalho
A dor do parto
O choro da criança
O êxtase da carne
A cicatriz da luta
A paciência do monge
O halo da santidade.      (ansiava por santidade)

Eu quero o belo, eu quero o santo
A ânsia da juventude
O limite da decrepitude
O orvalho da flor mais bela
O cimo da serra
Um refúgio para descansar     (esse refúgio é Jesus Cristo)
Água pura da bica gélida
O âmago das camélias
O arrepio do vento
Vindo dos monastérios.

Eu quero o belo, eu quero o santo
Quero rir-me das contradições
Quero a chave do jardim secreto
Andar no teto, voar no abismo
Quero o branco da pomba divina     (desejo pelo Espírito Santo)
A vida curta da parafina
Eu quero o toque dos dedos mornos
O quente
O frio
O fôlego da vida.

Eu quero o belo, eu quero o santo
Quero o canto do violoncelo
O paladar do beijo cálido
O desespero do naufrágio
Contemplar a pureza magna
Do altar da vida,
Sangue e ferida.          (o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado)
Sopro doce da visão onírica
Hálito novo de chuva no solo
Chão fértil, colheita pródiga
Anunciação de um novo mundo.

Eu quero o belo, eu quero o santo
Quero o badalar dos sinos,
Os vitrais da catedral
O sussurro dos cânticos
A seriedade do réquiem
A aquarela do pôr-do-sol.

Quero descansar nessa terra
Em que o trigo se esfarela
Gravar a verdade nas pedras     ("eu sou o caminho, a verdade e a vida" - Jo 14:6)
Para orientar os eremitas.  (espalhar a verdade)

Quero um lírio branco entre as mãos
O refrão do coral dos anjos          (os anjos existem para louvar a Deus)
Quero o suspiro do amor recôndito
A mudança das estações
O segredo que move o mundo,
Eu quero.

E tudo e nada não é suficiente
No entoar de minha canção premente, eu digo
Sem nenhum pesar ou espanto:
Eu quero o belo, eu quero o santo.

Lúcia R Pastorello e Silva - setembro/2009



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Poema II - Nobres Cavaleiros

Desde jovenzinha, sempre achei que não pertencia a este mundo...
Hoje em dia, tenho certeza de que não pertenço mesmo!
Desde essa época eu valorizava os princípios cristãos...
Só não conhecia a Deus, o autor desses princípios!

Este lugar é para você, nobre cavaleiro, que outrora, em épocas de grande glória, lutara corajosamente pelos seus ideais, com a nobreza e generosidade dos cavaleiros da távola do Rei Arthur.
Não, este não é seu mundo. 
Os valores verdadeiros foram esquecidos. 
Laços de amizade e honra, subestimados. 
Onde estão os corações valentes, os defensores da justiça e da paz? 
Onde estão os corteses cavaleiros com suas reluzentes espadas, sempre dispostos a defender os frágeis e oprimidos? 
Foi-se o tempo em que a palavra de um homem valia mais do que qualquer tesouro,
Foi-se o tempo em que vivíamos gloriosamente, valorizando apenas fatos essenciais da vida. 
Você se sente isolado neste mundo de aparências e procura verdadeiros amigos. 
Está atrás de um ideal de lealdade que há muito foi ignorado. 
Venha caro cavaleiro, sente-se à nossa mesa. 
Falemos de sonhos triunfantes. 


Lúcia R. Pastorello e Silva - setembro/2009



domingo, 6 de setembro de 2009

Poema I - Alva Outonal

Este é um dos poucos poemas que fiz quando adolescente...
Uma cruel depressão estava por surgir em minha vida.

É triste ver o romper d’alva
Entre as brumas turvas do outono,
Sentir vir dos alpes as lufadas
Trincando minh’alma vazia, que enfadonho.

Junto delas a eflorescência cessa,
As ervas soltam lânguidos lamentos,
O orvalho cobre o chalé e começa
A súplica pelo estio, alegres tempos.

Meu coração, já fadigado, dilacera,
Ao ouvir os lúgubres uivos telúricos,
O agonizar vindo do centro da Terra
Quando toco frutos de pomares rústicos.

E, nesse hesitar, a mente é cega,
Vacila por entre brisas, estonteante,
Se o romantismo outoniço nega,
Sabe da dor de uma alma errante.

Lúcia R. Pastorello e Silva - setembro/2009




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Oi, como todos que buscam a verdade...

...ergo sub specie aeternitatis.

...I think under the aspect of eternity.

...penso sob a perspectiva da eternidade.


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